segunda-feira, 16 de junho de 2008

Chita , Leopardo Caçador, Cheetah






A chita, também conhecida por guepardo, leopardo-caçador ou onça africana (Acinonyx jubatus) é um animal da família dos felídeos (Felidae), ainda que de comportamento atípico, se comparado com outros da mesma família. Tendo como habitat a savana, vive em África, na península arábica e no sudoeste da Ásia.

Efectivamente, como animal predador que é, prefere caçar as suas presas através de perseguições a alta velocidade, em vez de tácticas como a caça por emboscada ou em grupo. É o mais rápido de todos os animais terrestres, conseguindo atingir velocidades acima dos 110 km/h, por curtos períodos de cada vez (ao fim de cerca de 370 metros de corrida).

O corpo da chita é esbelto e musculado, ainda que de aparência delgada e constituição aparentemente frágil. Tem uma caixa torácica de grande capacidade e um abdómen retraído. Tem uma cabeça pequena, um focinho curto, olhos posicionados na parte superior da face, narinas largas e orelhas pequenas e arredondadas. O seu pêlo é amarelado, salpicado de pontos negros arredondados e formando duas linhas negras, de cada lado do focinho, que descem dos olhos até à boca, como que formando o trajecto de lágrimas. Um animal adulto pode pesar entre 28 a 65 kg. O comprimento total do corpo varia de 112 a 150 cm. O comprimento da cauda, usada para equilibrar o corpo do animal durante a corrida, pode variar entre 60 e 84 cm.

O nome do género biológico, Acinonyx, significa "garras imóveis", já que é o único felídeo que não consegue retrair por completo as suas garras, que permanecem visíveis mesmo quando recolhidas ao máximo, sendo usadas para permitir uma maior aderência ao solo enquanto corre, acelera e manobra no terreno. O nome da espécie, "jubatus", significa "com crina" e refere-se às crinas que as crias da chita apresentam.

A palavra "chita", de som semelhante à palavra inglesa "cheetah", deriva da língua hindi "chiita" que, por seu lado, talvez derive do sânscrito "chitraka", que significa "a salpicada de manchas". Outras línguas europeias relevantes usam variantes do latim medieval "gatus pardus", ou seja, "gato-leopardo": em francês, guépard; em italiano ghepardo; em espanhol (e também em português), guepardo; e em alemão Gepard.

Reprodução e vida social



Os machos atingem a maturidade sexual a partir dos dois anos e meio ou três anos. A fêmea, um pouco mais precoce (dois anos) pode gerar de uma a cinco crias, depois de uma gestação de 90 a 95 dias. As crias podem pesar entre 150 e 300 gramas quando nascem. O desmame ocorre cerca de seis meses após o parto e, entre os 13 e 20 meses, abandonam a guarda da mãe para passarem a ter uma vida independente. Ao contrário de outros felinos, as fêmeas não têm um verdadeiro território próprio e demarcado, parecendo, no entanto, evitar a presença das outras. Os machos podem, eventualmente, juntar-se em grupos, especialmente se nasceram na mesma ninhada.

A chita pode viver de 15 a 20 anos.

Alimentação

Descansando
Descansando
Duas chitas
Duas chitas

A chita é um animal carnívoro. Alimenta-se essencialmente de mamíferos abaixo dos 40 kg, incluindo gazelas, antílopes, zebras, impalas, filhotes de gnu, lebres e aves. A presa é seguida, silenciosa e vagarosamente, numa distância que varia, em média, de dez a trinta metros, até ser atacada de surpresa. A perseguição que se segue dura geralmente menos de um minuto, e, se a chita falha uma captura rápida, desiste, com o intuito de não gastar energia desnecessariamente. Menos de metade desses ataques tem sucesso (alguns autores estimam em apenas 10% a possibilidade de sucesso).

Durante a caça, a chita pode atingir por volta de 110 km/h em apenas 4 segundos. Com isso, após a caça, a chita fica exausta, o que facilita a perda da presa capturada para animais como a hiena.

Habitat

Encontram-se chitas no estado selvagem apenas em África, ainda que no passado se distribuíssem até ao norte da Índia e ao planalto iraniano, onde eram domesticadas e usadas na caça ao antílope, de forma semelhante ao que se faz actualmente com os galgos (especialmente da raça greyhound). Atualmente, na Ásia, só existem chitas selvagens no Irã, mas trata-se de uma população extremamente pequena (em torno de 60 exemplares no início do século XXI) e ameaçada pela pressão humana, sob a forma da caça e do pastoreio, o qual reduz o número de presas (gazelas) disponível. Acrescente-se ainda que a área de ocorrência do chita no Irã encontra-se em região remota, próxima à fronteira com o Afeganistão, onde as forças de segurança iranianas tem dificuldade de penetrar devido à presença de gangues que praticam o contrabando e o tráfico de heroína.

As chitas preferem habitar biótopos caracterizados pelos espaços abertos, como semi-desertos e pradarias (savana africana).

Têm uma variabilidade genética geralmente baixa, além de uma contagem de esperma anormalmente alta. Pensa-se que foram obrigadas a um período prolongado de procriação consanguínea depois de passarem por um evento populacional designado por efeito gargalo de garrafa genético. Terão evoluído em África durante a época Miocena (de há 26 milhões a 7,5 milhões anos atrás), antes de migrarem para a Ásia. Espécies extintas actualmente incluíam a Acinonyx pardinensis (da época Pliocena), muito maior que a chita actual, encontrada na Europa, Índia e China; a Acinonyx intermedius (Pleistoceno médio), com a mesma distribuição geográfica; a Miracinonyx inexpectatus, Miracinonyx studeri, e a Miracinonyx trumani (ao longo de todo o Pleistoceno), cujos fósseis foram encontrados na América do Norte. Aventou-se recentemente, no entanto, que o gênero norte-americano Miracinonyx seria um exemplo de convergência evolutiva, constituindo-se, não num parente próximo do chita atual, mas numa forma corredora do puma.

Estado de conservação

As crias da chita sofrem de elevados índices de mortalidade devido a factores genéticos e à predação por parte de carnívoros que competem com esta espécie, como o leão e a hiena. Alguns biólogos defendem a teoria de que, em resultado da procriação consanguínea, o futuro da espécie está comprometido.

As chitas estão incluídas na lista de espécies vulneráveis da IUCN (União Internacional pela Conservação da Natureza), como subespécie africana ameaçada e subespécie asiática em situação crítica. É considerada uma espécie ameaçada de extinção no Apêndice I da CITES (Convenção sobre o comércio internacional das espécies da fauna e da flora selvagem ameaçadas de extinção).

As chitas na arte e na literatura

  • Na obra de Ticiano Baco e Ariadne (1523) a carruagem do deus é puxada por uma parelha de chitas (usadas como animais de caça na Itália renascentista).
  • No quadro de George Stubbs, “Chita com dois servos indianos e um veado” (Cheetah with Two Indian Attendants and a Stag) (1764-1765) é mostrada a chita como animal de caça. O quadro foi feito em comemoração da doação de uma chita a Jorge III do Reino Unido pelo Governador Inglês de Madras, Sir George Pigot.
  • Em “A carícia” (1896), do pintor simbolista belga Fernand Khnopff (1858-1921), é representado o mito de Édipo e da Esfinge, representada por uma criatura com cabeça de mulher e corpo de chita (muitas vezes, erroneamente identificada como um leopardo).
  • A utilização das chitas como animais de estimação exóticos é representada, por exemplo, numa peça de escultura art déco de cerca de 1925, da Wiener Werkstätte (oficina de Viena).
  • O livro de André Mercier, Our Friend Yambo (1961) é uma curiosa biografia de uma chita adoptada por um casal francês que a traz para Paris. Este livro foi, com certeza, influenciado pelo sucesso do livro “Born Free” (que deu origem ao filme que em Portugal recebeu o nome de “Uma leoa chamada Elsa”), de Joy Adamson que também escreveu a “autobiografia” de uma chita em The Spotted Sphinx (1969).
  • O filme Duma (2005) retrata a relação de um rapaz de 12 anos com a sua chita, na África do Sul.